Ontem, por volta do meio-dia, em frente ao mar de Vila Chã, percebi um pouco melhor a estrutura interna d’ As Filhas do Fogo. A maré estava baixa e as ondas rebentavam suave e intercaladamente na areia em três pontos (e às vezes num quarto mais afastado e mais grave). Fechei os olhos. O diálogo passava de um lado para o outro e para o outro e assim sucessivamente. É um som eterno, persistente como uma marcha. Nota contra nota. Uma mulher que espreita, uma mulher que se levanta, uma mulher que caminha. Quando tudo colapsa, nesse dia feio que se arrasta há séculos, é essa força de resposta que trabalha nos intervalos que temos de reencontrar. Ah, se a música conseguir ajudar-nos a transformar o sofrimento em alegria, como dizia Olga. Se conseguirmos desemaranhar a nossa vida.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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