Creio que só se deveria mesmo ler livros que nos mordem e picam. Se o livro que lemos não nos acorda com uma punhada no crânio, para quê, então, lermos o livro? Para que nos faça felizes? Meu Deus, felizes também nós seríamos mesmo que não tivéssemos livros, e livros que nos façam felizes, em caso de necessidade, até nós próprios os poderíamos escrever. Precisamos, porém, dos livros que agem sobre nós como uma desgraça que nos magoa muito, tal como a morte de alguém que nos fosse mais querido do que nós próprios, tal como se fôssemos banidos para as florestas, longe de toda a gente, tal como um suicídio. Um livro tem de ser o machado para quebrar o mar gelado dentro de nós.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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