Na Gata Borralheira e na Branca de Neve tudo acontece no «doce sonho». O sonho que «vai e vem como as ondas do lago». Quando o Forasteiro da Bela Adormecida, vindo de um outro reino – que reino? –, arranca as personagens do seu «sono secular», elas queixam-se porque não queriam ser acordadas. Diz o Almoxarife: «Durante o sono, não fluía tudo, e excelentemente não nos sentíamos todos?» Mas em que mundo despertam elas? O Forasteiro: «Não será o real também um sonho, não seremos todos, apesar de igualmente agirmos acordados, algo sonhadores, sonâmbulos em pleno dia, que brincam com ideias e agem como se estivessem acordados?» Nas histórias de Robert Walser, realidade e sonho confundem-se, são sinónimos. É impossível perceber onde acaba uma e começa o outro. Ou onde termina o conto de fadas e começa o seu avesso.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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