O cinema de Pedro Costa tem uma organização do espaço muito própria. Em Vitalina Varela, por exemplo, ele aproxima-se de um brutalismo orgânico que preserva as texturas e as cores degradadas de um jeito comovente (em cima dessas casas mal levantadas podíamos construir verdadeiras casas do povo, à margem da formatação deprimente dos bairros sociais). É raro encontrar equivalentes no Porto, mas há uns tempos descobri uma prolongação dessa arquitectura indisciplinada no número 46 da rua Monte Cativo. Até chegarem os investidores, aquela brecha é território do Pedro Costa e dos gatos. De vez em quando passo por lá para desentorpecer os olhos.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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