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Fracasso

Leio Nelson Rodrigues e tropeço numa passagem tipicamente walseriana:

«Estava diante do espelho, fazendo a barba, e pensava: “Dane-se a posteridade. Não faz mal que eu seja esquecido.” Mais um pouco e digo para mim mesmo: “Quero ser esquecido.” Naquele momento, eu percebia, com implacável lucidez, que essa disposição era vital. Tinha que receber o fracasso com desesperada alegria suicida. Um dia, o Paulo Francis veio me entrevistar. Dei as minhas respostas por escrito; e terminava assim: “Quero ser esquecido para sempre.”» 
(Memórias: A Menina Sem Estrela, p. 276.)

A ideia de fracasso, de auto-apagamento, não é um simples capricho literário, mas um projecto de resistência «vital». Para alguns, é a única maneira de conservar o furioso desejo de viver e escrever.

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