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«Ford foi temerário e na velhice atreveu-se a ir mais longe do que nunca. Embora em termos de cinema «experimental», como diria Straub, se possa pensar em The Long Gray Line, que Straub menciona, ou em Two Rode Together ou Donovan’s Reef, julgo que o contraste tremendamente «monstruoso» de Cheyenne Autumn é a coisa mais radical que Ford fez. Aquilo que é mais sério, mais profundo, no filme é o grotesco. Depois da barbárie do texano a matar um índio pelo puro prazer de o fazer, pela curiosidade de saber o que se sente, a indiferença, a estupidez, dos habitantes de Dodge City (cidadãos de pleno direito, civis; Ford não teria sido tão cruel se fossem militares) é o comentário mais sombrio sobre as relações dos americanos com os índios que já vi no cinema. E o facto da cena ser uma palhaçada ainda torna os brancos mais idiotas e faz com que a sua monstruosidade seja muito mais dolorosa.» 

Simetrias — os 5 actos nos filmes de John Ford, de Paulino Viota (página 29).


(É a primeira vez que tenho de rever tantos filmes para traduzir um livro. Também é a primeira vez que traduzir se transforma num curso. Como é sobre John Ford, as aulas são ao ar livre.) 

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