Escrevo porque não quero morrer. A escrita é uma maneira duvidosa de enganar a morte, mas é a única que conheço. Quando não escrevo, leio. O sentido é o mesmo: distrair a morte com palavras, jogos, histórias. Ler e escrever são sinónimos. Em ambos os casos, actua a imaginação com todo o seu poder de fogo. Claro que isto não passa de uma bagatela, mil vezes repetida por toda a espécie de aprendizes de feiticeiro. Mas talvez essa ideia vulgar de que a escrita ajuda a adiar a morte nunca tenha estado tão próxima da verdade mais íntima do tempo e das coisas. Ao escrever isto, uma e outra vez, como uma litania, estou a viver mais umas linhas, um parágrafo.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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