Antigamente, traduzir era, cientificamente, “impossível” (apesar de haver tradução desde sempre…), já que não temos acesso à “intenção do autor” e que existem termos “intraduzíveis” de umas culturas ou outras; o tradutor era um “traidor”, por mais que tentasse ser “fiel” à obra, e esta era sempre “perfeita”, enquanto que a tradução, “diferente”, sempre “inferior”, sempre fadada ao fracasso, sempre destinada a “perder” coisas aqui e ali. Hoje em dia, em grande parte graças aos desconstrutivistas, sabemos (ou ao menos, rosianamente, desconfiamos) que, de qualquer forma, nem o autor saberia dizer muito bem qual a sua “intenção” (lembro de uma anedota do escritor que foi resolver questões de vestibular sobre seu próprio livro e foi reprovado…), que existem termos “intraduzíveis” que são perfeitamente explicáveis, que as obras não são algo fixo, rijo e uno, e que, portanto, tendo em vista a pluralidade de pontos de vista possíveis e a historicidade de que estão impregnados tanto os autores