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A roda do tempo

«O Oriente é a terra de tudo o que há de maravilhoso», escreve W. H. Wackenroder em Um maravilhoso conto oriental de um santo nu. Neste conto, Wackenroder relata a história de um «santo oriental» que, a certa altura, e na solidão da sua gruta, se convence que tem uma missão essencial a desempenhar no mundo: fazer girar a roda do tempo. Sem ele, a roda do tempo pararia e o mundo saltaria do seu eixo.

Noite e dia, este ser maravilhoso não tinha descanso na sua estância. Parecia estar constantemente a ouvir, no interior dos ouvidos, o movimento circular e sibilante da roda do tempo. Perante este ribombar, nada conseguia fazer, não havia nada que pudesse empreender; a gigantesca e assombrosa angústia que continuamente o extenuava impedia-o de ver ou ouvir algo que não fosse o ruído da terrível roda, a girar e a girar, num tempestuoso e sibilante remoinho que chegava até às estrelas. (...) Os sons monótonos emaranhavam-se cada vez mais e de forma cada vez mais selvática: era-lhe impossível descansar. Era possível vê-lo, noite e dia, no mais intenso e extenuante dos movimentos, como o de uma pessoa que se esforça por fazer girar uma roda gigante. Dos seus discursos agrestes e fragmentários podia-se depreender que se sentia impelido pela roda e que pretendia, com todo o esforço do seu corpo, contribuir para aquele vertiginoso e estrondoso ímpeto giratório, para que jamais se corresse o risco de deixar parar o tempo, nem que fosse por um breve instante.
(Tradução de Claudia J. Fischer)

O conto de Wackenroder evoca em mim a memória de uma outra obra igualmente marcada por um «vertiginoso e estrondoso ímpeto giratório»: Jerada, de Bouchra Ouizguen. Wackenroder podia facilmente ter imaginado Jerada. E Um maravilhoso conto oriental de um santo nu podia ser o título da coreografia de Bouchra Ouizguen.

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