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Uma citação e duas notas



Mas o público de cinema adora os artifícios emocionais, diverte-se participando emocionalmente nos filtros artificiais, e não se pode deixar de compreender quem sai a correr de Diário de um Pároco de Aldeia pelo mesmo motivo que de Sleep (1964), de Warhol — são filmes pura e simplesmente demasiado «chatos». O Estilo Transcendental no cinema (página 138), de Paul Schrader. 

Em Bresson e a sua personalidade, na página 157, directa ou indirectamente, Paul Schrader atira as seguintes classificações ao cineasta: estilista consumado, excêntrico, mórbido, hermético, estranho e obcecado com os dilemas teológicos, reaccionário cultural, revolucionário artístico, fanático religioso obsessivo, uma figura romântica, inquieta e torturada, forçado a viver as suas neuroses na tela, inadaptado, um neurótico suicida, génio excêntrico

Na página 161, num só parágrafo sobre o desconcertante problema do suicídio nos filmes de Bresson, a palavra suicídio aparece quatro vezes, suicida-se, uma. E ainda: morrem às próprias mãos, «renunciam» às suas vidas, «livre» para morrer, acabar com a vida. (Com esta estatística, talvez não fosse difícil convencer Cioran a trocar os filmes científicos que Michaux lhe impingia no Grand Palais pelos de Bresson, muito mais animados.)

Comentários

boa noite disse…
ah mas se tivéssemos de mostrar-lhe um livro, e ainda mais desse tal de Schrader, temo que já teríamos começado mal! Ele tinha de ser violentado pelas imagens e pelos sons, sem nem uma única palavra, não vejo como ele poderia não aderir inteiramente a eles