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Mensagens

Domingo

Dissolução do parlamento, avisos meteorológicos, dia das bruxas, miúdos disfarçados de monstros, bombeiros em alerta, luta no interior dos partidos, chuvas fortes e permanentes, ministros de saída, preços da energia, comentadores e politólogos, mil vampiros nas montras das lojas, aranhas e ratazanas de plástico, guarda-chuvas, dores nas costas, dores nas costas, dores nas costas.

A morte

A morte é uma ocorrência vulgar, talvez a mais vulgar que podemos conhecer. A sua natureza rasteira não se deixa apanhar por raciocínios intelectuais ou palavras engenhosas. O nevoeiro filmado por Carpenter está mais perto da sensação da morte do que o jogo de xadrez de Bergman.

A catástrofe

“… há muito a aprender na catástrofe" (p. 45). Uma vez Susan Sontag disse, diz Brodsky, "que a primeira reação diante da catástrofe é perguntar: Qual foi o erro? O que deve ser feito diferente ?". Mas Sontag ainda diz que há outra alternativa, outro comportamento possível: "deixar a tragédia atropelar você" ; "se você conseguir retornar depois disso, será uma pessoa diferente. O princípio da fênix, poderíamos dizer; eu frequentemente lembro dessas palavras de Sontag" (p. 45).  Kelvin Falcão Klein

Influenciadores do século XX

 

At fourteen I was a boarder in a school in the Appenzell.

This was the area where Robert Walser used to take his many walks when he was in the mental hospital in Herisau, not far from our college. He died in the snow. Photographs show his footprints and the position of his body in the snow. We didn’t know the writer. And nor did our literature teacher. Sometimes I think it might be nice to die like that, after a walk, to let yourself drop into a natural grave in the snows of the Appenzell, after almost thirty years of mental hospital, in Herisau. It really is a shame we didn’t know of Walser’s existence, we would have picked a flower for him. Even Kant, shortly before his death, was moved when a woman he didn’t know offered him a rose. You can’t help but take walks in the Appenzell. If you look at the small white-framed windows and the busy, fiery flowers on the sills, you get this sense of tropical stagnation, a thwarted luxuriance, you have the feeling that inside something serenely gloomy and a little sick is going on. It’s an Arcadia of s...

Nível espiritual

Por que inventámos Deus, anjos, etc. ? Para ter com quem falar. 
(“De agora em diante não falarás mais com homens, mas com os anjos”, disse Jesus (?) a Santa Teresa.) Num certo grau de solidão ou intensidade, há cada vez menos pessoas com quem podemos conversar; acabamos até por constatar que já não temos semelhantes . Chegados a este extremo, voltamo-nos para os nossos dissemelhantes (?), para os anjos, para Deus. É, portanto, por falta de interlocutor (!) cá em baixo que procuramos um outro algures O sentido profundo da oração é este: a impossibilidade de falarmos com quem quer que seja aqui, não por vivermos num nível espiritual elevado, mas por um sentimento de abandono ...  Já no caso dos santos e místicos, não se trata de abandono, mas de estado limite, de isolamento pela impossibilidade de dialogar mais com o próximo.  Não haveria absoluto se o homem pudesse suportar um grau extremo de solidão. Não se trata da solidão do abandono; pelo contrário, pode haver, nesta ...

Fundo e superfície

Na linha Porto-Gaia, pouco depois de São Bento, o metro irrompe inesperadamente do fundo para a superfície. Na verdade, o metro voa do túnel para a ponte e, num segundo, estamos a correr entre as nuvens. Transposta a ponte, desvio de novo o olhar para o livro, e leio: «São tempos singulares, estes em que vivemos. Tempos em que grandes agitações de superfície conseguem fazer-se passar por reais transformações de fundo. (...) Os homens mudam, dir-se-á. Sem dúvida, e tanto mais facilmente quanto se lhes der a possibilidade de parecerem mudar . A ilusão da mudança poupa com efeito a muitos deles dilacerações cornelianas entre os interesses e as convicções. Tal como essas viagens que se empreendem sem uma pessoa sair de onde está sentada, deixando simplesmente que umas às outras se sucedam as paisagens móveis dum diorama...» (Georges Henein.)

Little gray man

Foi pelo efeito tronante que Rui Moreira chamou “o Putin de Paranhos” a Alberto Machado. É uma descrição inexacta; já sigo a carreira do militante do PSD de Paranhos há algum tempo (assim como segui a ascensão do Marco António em Valongo, atraem-me as personagens secundárias) e acho mais adequado roubar a expressão ao Errol Morris e chamar-lhe little gray man . Ou, traduzindo para português de rua: uma ratazana .

Película negra

O que se está a passar no PSD parece uma série de televisão: uma sequência de cenas com guião previsível, personagens balofas, frases espampanantes. A temporada de Rio acaba (laranja puro ), sucede-se a de Rangel (sobre fundo azul) — como nas séries, é sempre a mesma coisa ruminada. Infelizmente, na realidade não há botão para desligar o aparelho. Precisávamos, talvez, de um bocado de película negra. Mas como é que se faz essa montagem?