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Fin de partie

Uma das coisas que mais me impressiona em Godard é a forma como ele se dedica às pessoas e às ideias, como decifra palavras, imagens, gestos, sons, a própria alma; como baralha tudo e depois afasta-se a alta velocidade, ultrapassando os objectos amados. Parece um cometa ou uma máquina inteligentíssima e selvagem feita de luz, sombra, mãos.

Também foi assim na morte: antecipou-se a Federer, deixou para trás o estuporado do Cioran. Ficamos tão desamparados.




Comentários

atalhos disse…
Sim, lembro-me (da semiologia) dessa associação coma / estupor, e nunca compreendi que um homem tão atraído pela morte se deixasse apanhar por ela, e da pior forma. Já Godard teve a lucidez corajosa de se antecipar ao estupor da morte. Pedro, o louco, ainda podia ter-se arrependido no último momento. Ele não.
Anónimo disse…
é bom que tenhas escrito tão pouco, e que não tenhas sobretudo feito referências à "biografia", como tantos fizeram com tanto desembaraço, sem desconfiar da facilidade com que o faziam...

De tudo isso, tenho pensado nas palavras que Pavese deixou na mesinha de seu quarto de hotel;

no coronel Chabert, ao final, "não me fale disso";

etc