- Tu dizes que a arte não deve excitar o desejo - repôs Lynch - Já te contei que um dia escrevi o meu nome, a lápis, no traseiro da Vénus de Praxíteles, no Museu. Não seria isso desejo? - Estou a falar de naturezas normais - explicou Stephen. - Também me contaste que quando eras criança, na tua inefável escola carmelita, comias pedaços secos de bosta de vaca. Lynch não pôde conter-se e soltou de novo as suas risadas vagas, esfregando outra vez a barriga, mas sem tirar as mãos dos bolsos. - Mas comi! Mas comi! - exclamava ele. (...) - E não te esqueças, peço-te, que, muito embora tenha comido outrora um bolo de bosta de vaca, admiro unicamente a beleza. James Joyce, Retrato do artista quando jovem . Tradução de Alfredo Margarido.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral