Tudo, absolutamente tudo, pode acontecer. Nicolas Segerstam pode estar a lavrar a terra e, nisto, descobrir por entre raízes de rododendros uma brilhante pepita de ouro. Amargurado, Krieger pode torcer as mãos a tal ponto que do meio delas salte – zás! – um gato preto. Dois enormes ursos, firmemente erguidos sobre as patas traseiras, podem achar-se a tomar café e a devorar bolos de arroz ao balcão do Café Ceuta. Um cigarro pode estar a fumar um homem, neste preciso momento, sob o guarda-sol de uma esplanada. O bico de um melro pode transformar-se numa flor amarela. Ou uma flor amarela ganhar asas escuras como as de um melro. Jugha Kangas pode desaparecer do seu amplo, luminoso e confortável gabinete ministerial, de repente e sem deixar rasto, como alguém que se tivesse dissolvido no ar. Uma mosca delicada pode queimar as patinhas – ai! – ao pousar no traseiro suave e desnudo de Cornélia Kallisch. Enfim, tudo, absolutamente tudo, pode acontecer. Mas, normalmente, não acontece nada. P