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Mensagens

O negócio é o seguinte

Não é o que sabemos sobre nós próprios, mas o que preferimos não saber, o que tentamos desesperadamente esquecer. É sobre isso que Nelson Rodrigues escreve. Uma luz fria apontada ao escuro. Tudo o que está na sombra é desvelado na sua crua nitidez: todas as “pequeninas tatuagens”, obsessivas, impossíveis de apagar.

Uma canção-manguito para o Ministro da Presidência

 

Influenciadores

Mareme Niang.

Costumávamos ter medo do patrão

 «Eu não quero cá o patrão. Para me explorar, não quero cá o patrão. Assim estou mais feliz. Ele que não venha que não me faz falta, nem a mim nem às minhas colegas, porque eu agora ganho quatro contos e trabalho, mas no tempo do patrão trabalhava o dobro e ganhava só um conto e oitocentos por mês, por isso eu não quero cá o patrão. Não quero!» Outro País, de Sérgio Tréfaut.

Apagão

Leio no jornal que a «palavra do ano» é Apagão . Pela primeira vez, a vulgar acção publicitária da Porto Editora coincide – ainda que de forma involuntária – com o verdadeiro carácter da nossa época. Este é, de facto, o tempo do apagão. O apagão da história, dos factos, da dignidade, da empatia, da humanidade. Em breve, pouco restará que não tenha sido já apagado. Só a electricidade continuará a correr pelos fios, dentro das paredes.
Geppeto#21

Fracasso

Leio Nelson Rodrigues e tropeço numa passagem tipicamente  walseriana : «Estava diante do espelho, fazendo a barba, e pensava: “Dane-se a posteridade. Não faz mal que eu seja esquecido.” Mais um pouco e digo para mim mesmo: “Quero ser esquecido.” Naquele momento, eu percebia, com implacável lucidez, que essa disposição era vital. Tinha que receber o fracasso com desesperada alegria suicida. Um dia, o Paulo Francis veio me entrevistar. Dei as minhas respostas por escrito; e terminava assim: “Quero ser esquecido para sempre.”»  ( Memórias: A Menina Sem Estrela , p. 276.) A ideia de fracasso, de auto-apagamento, não é um simples capricho literário, mas um projecto de resistência «vital». Para alguns, é a única maneira de conservar a fúria de viver e escrever.

Weininger

Carta para Jacques Le Rider  Paris, 16 de Dezembro de 1982  Ao ler o seu livro sobre o meu antigo e distante ídolo, não pude deixar de pensar no acontecimento que foi para mim a leitura de Geschlecht und Charakter . Estávamos em 1928, eu tinha dezassete anos e, ávido de todas as formas de excesso e heresia, gostava de explorar uma ideia até às últimas consequências, levar o rigor até à aberração, até à provocação, conferir ao furor a dignidade de um sistema. Por outras palavras, apaixonava-me por tudo, excepto pelas nuances. O que me fascinava em Weininger era o exagero vertiginoso, o infinito na negação, a recusa de bom senso, a intransigência mortal, a busca de uma posição absoluta, a mania de levar um raciocínio até ao ponto onde ele se destrói a si mesmo e arruína o edifício de que faz parte. Acrescente-se a isso a obsessão pelo criminoso e pelo epiléptico (especialmente em Über die letzten Dinge ), o culto da fórmula genial e da excomunhão arbitrária, a assimilação da mul...

Adiado

A conversa sobre Robert Walser que estava prevista para este sábado, às 16h00, no Salão Nobre do Teatro São João, foi adiada para o sábado seguinte, dia 6 de Dezembro . Mesma hora e mesmo local. Existiria contratempo mais puro, exacto e inapelavelmente walseriano ? Robert Walser é o génio sempre adiado. Desta vez, porém, apenas por uma semana. A entrada é livre.

A arte de sublinhar

É impossível sublinhar livros no comboio. Ou por outra: possível é, mas as linhas saem tortas, oscilantes, canhestras. Há um grau mínimo de rigor e geometria para o sublinhador de livros. Sublinhados tortos parecem sugerir um pensamento torto. As linhas devem ser direitas como o comboio a sublinhar a paisagem.
Gambúsia é um bom nome para uma futura operação da PJ. Fica o recado.

A história acaba mal

O Porto acordou com outdoors do chefe da extrema-direita plantados um pouco por todo o lado. Os slogans são as asquerosas provocações do costume. A ambição megalómana deste tipo é homicida. O que muitos «portugueses» (eu incluído) sabem sobre tipos como ele, aprenderam com os mais velhos, nos jornais e nos livros. E o que vem nos livros é que a história acaba mal. Para todos, incluindo para o chefe.
A única fotografia em que estamos juntos (o Rui Manuel Amaral e eu).