Boniface desejava ganhar asas e voar. Um desejo que, obviamente, não tem nada de extraordinário. Em toda a parte há gente que gostaria de voar, mas não como ele. Boniface estava possuído por aquela ideia. A obsessão era tão completa que, no seu pensamento, não restava espaço para mais nada. E tanto desejou voar que em Março de mil novecentos e cinquenta e três, pof, transformou-se em nada menos do que uma asa. Vejam como são as coisas. Uma asa imensa. A mais bela asa do mundo. Tão bela quanto superlativa e brilhante. Não havia ave cuja inveja ela não excitasse. Nem nos seus sonhos mais loucos isto lhe passara pela cabeça.
Pois muito bem. Agora, uma pergunta: o que podia ele fazer sendo apenas uma asa? Apesar das longas penas douradas com raros toques de púrpura azul ou violeta, lamento dizê-lo, uma asa não chega para voar. Boniface viu subitamente o caso descarrilar. Oh, não, não, não, dez mil vezes não! Cheio de arrependimento – pobrezinho! –, pensava na vida segura e sem imprevistos que desdenhara em favor daquele terrível desejo de voar. Nunca vi uma asa com um ar tão desanimado.
De facto, o mundo é duro e cruel. De facto, ninguém sabe por que estamos aqui; ninguém sabe para onde vamos. De facto, deveríamos compreender humildemente a beleza da quietude e da paciência, e esforçarmo-nos por atravessar a vida sem barulho, a fim de não sermos notados pela sorte. De facto, desejar pouco ou nada, viver escondido num cantinho, os pés bem assentes na terra, eis a verdadeira sabedoria. Com efeito, tinha sido melhor que Boniface tivesse ouvido o seu pai e fosse hoje apenas um modesto carpinteiro.
Assim se manteve asa para sempre. Nos anos que se seguiram, sobreviveu sem que se saiba exactamente como. Ele próprio é muito discreto acerca deste ponto nas suas memórias.
Pois muito bem. Agora, uma pergunta: o que podia ele fazer sendo apenas uma asa? Apesar das longas penas douradas com raros toques de púrpura azul ou violeta, lamento dizê-lo, uma asa não chega para voar. Boniface viu subitamente o caso descarrilar. Oh, não, não, não, dez mil vezes não! Cheio de arrependimento – pobrezinho! –, pensava na vida segura e sem imprevistos que desdenhara em favor daquele terrível desejo de voar. Nunca vi uma asa com um ar tão desanimado.
De facto, o mundo é duro e cruel. De facto, ninguém sabe por que estamos aqui; ninguém sabe para onde vamos. De facto, deveríamos compreender humildemente a beleza da quietude e da paciência, e esforçarmo-nos por atravessar a vida sem barulho, a fim de não sermos notados pela sorte. De facto, desejar pouco ou nada, viver escondido num cantinho, os pés bem assentes na terra, eis a verdadeira sabedoria. Com efeito, tinha sido melhor que Boniface tivesse ouvido o seu pai e fosse hoje apenas um modesto carpinteiro.
Assim se manteve asa para sempre. Nos anos que se seguiram, sobreviveu sem que se saiba exactamente como. Ele próprio é muito discreto acerca deste ponto nas suas memórias.
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