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Música de embalar

«Música ambiente» nos cafés, nos bares e nas esplanadas. «Música ambiente» nas frutarias, nas mercearias e nas lavandarias self-service. Nos parques de estacionamento e nas estações de metro. Nos auto-rádios, nas filas de trânsito e nas chamadas em espera. Estranha música para embalar sonâmbulos.

Não se deve acordar os sonâmbulos.

Comentários

António disse…
Acho que era Lobo Antunes que, descrevendo o interior dos apartamentos minúsculos, de preços acessíveis, que nos fins dos anos setenta ou inícios de oitenta, apareceram, bairros e bairros deles, na periferia da cidade - justificava a profusão de bibelôs (reprodutores; ameaçavam tomar a casa) com uma fobia às superfícies vazias. A superfície vazia e o silêncio são da mesma família.
Nem mais, Greg. É preciso tapar e abafar tudo. O ideal é nem sequer ouvirmos o som do pensamento.
Há também aquele conto do Walser, "Basta!": "Matar a cabeça a pensar não é o meu forte, pois quem pensa muito padece de dores de cabeça e a dor de cabeça é inteiramente supérflua. Dormir e ressonar é melhor do que matar a cabeça e beber um copo de cerveja sobriamente é de longe melhor do que ser poeta e pensar." O Walser não incluiu os bibelôs e a música ambiente, mas podia.