Uma das cenas que melhor descreve os mecanismos sinuosos da memória surge quase no início do livro. Em 2011, um conhecido de Maria Stepánova convidou-a para participar numa conferência em Sarátov. Ela não conhecia a cidade mas, como era a terra do seu bisavô, resolveu aceitar o convite e aproveitar para investigar.
O conhecido conseguiu descobrir onde o seu bisavô vivera cem anos antes e ela foi à rua Moskóvskaia à procura do passado. Apesar de nunca lá ter estado, vai reconhecendo o pátio, as vedações, um arbusto, as paredes tortas, a madeira, os tijolos — tudo aquilo era nosso, escreve.
Uma semana depois o tal conhecido telefona-lhe para dizer que se enganara no endereço, o bisavô tinha de facto vivido naquela rua mas noutro número. Maria Stepánova conclui: Isto é mais ou menos tudo o que sei da memória.
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