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A mostrar mensagens de outubro, 2025

Observações avulsas sobre o bonfim #76

O partido e a coligação que podem ganhar a presidência da câmara já fixaram os últimos cartazes da campanha no Campo 24 de Agosto. Vêm de um tempo futuro hipotético para além dos indecisos e das sondagens e seguem as mesmas regras de comunicação: já não se trata de mais um candidato, mas do «novo presidente» ou «presidente à moda do Porto» investido do desejado poder. Os dois afirmam assertivamente: Ganhamos! No entanto, em termos simbólicos nem tudo são vitórias. O cartaz de Pizarro é vulgar, mas pelo menos nele reconhecemos o homem (mais ou menos descontraído, em plano americano) e não formas geométricas como no início. Pelo contrário, Pedro Duarte fez o caminho inverso e transformou-se numa verdadeira imagem de banco – parece um protótipo de presidente de câmara, incaracterístico e demasiado pós-produzido, pronto para uma série da Netflix. 

Acertar contas

Então, lembrei-me do Rimbaud e das contas que tinha a acertar com ele e comigo. Parti para a tradução como o pugilista destreinado para o saco de boxe: quis treinar a musculatura. E, com isso, tentar uma nova redenção.   «Se algo há que não me enjoa / São as pedras e os torrões. […] // Fomes são pontas de ar negro; […] / — É o bucho que lateja. / É a desdita.» (’Festas da Fome’, p. 333)

Podem acordar esse senhor?

Ontem à noite, a meio do filme, alguém no público ressonava com um ronco bestial. Devia ser um sonho feliz, aquele que o homem estava a ver com os olhos da alma . Numa sequência longa sem som (um plano dos Lumière de 50 segundos) , o ronco transformou-se na banda sonora. Do outro lado da sala, outro espectador atirou: «Podem, por favor, acordar esse senhor?» Não está certo interromper o sonho de um homem.