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Dentes portugueses

Adeus, adeus, meus dentes! Só mais outro dia,
E vamos dirimir esta pugna entre nós,
Divórcio que a dentista estrangeira oficia
Num desconsentimento total e feroz.

Essa fidelidade tão à portuguesa,
Feita de tanto golpe baixo, tantas fintas,
Com que me temperastes o prazer da mesa,
Fruto de fero amor, tão vero e troca-tintas,

Ficai com ela, que eu dispenso despedidas.
A culpa é toda minha, devo confessar
Que não tinha dinheiro e descurei medidas

Evidentes no plano mais elementar.
O remorso católico arde-me feridas
No sítio que Calvino gosta de brocar.

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