O que Vassili Grossman não viu ou não conseguiu descrever por palavras em Bem Hajam! talvez se perceba com mais clareza nas Quatro Estações, de Artavazd Peleshian. E o que Peleshian não mostrou ou não conseguiu filmar, talvez se consiga ver no livro de Grossman. Ambos, Peleshian e Grossman, são Sísifos, condenados a intermináveis trabalhos em tempos difíceis. Longos e árduos caminhos, com subidas e descidas, numa luta permanente com as leis dos homens, dos deuses e dos elementos. Mas a palavra correcta será “luta”? Os pastores arménios que deslizam montanha abaixo, abrindo sulcos por entre a neve ou as rochas, protegendo com o próprio corpo as ovelhas, não retirarão algum prazer daquele trabalho? É que, no fim de contas, há ovelhas, livros e filmes, vivos. Ovelhas, livros e filmes carregados de vida.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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