As páginas de “Lançamento” não estão numeradas. A ausência de numeração abre um espaço vazio na página, que provoca uma leve sensação de vertigem, de perda de pé. Formalmente, o livro não tem princípio, meio ou fim. O leitor concentra então toda a atenção nos títulos dos poemas; é uma questão de intuição, de manobra involuntária para não perder o equilíbrio. Cada título corresponde a um nome próprio: Alice, Luís, Paulo, Mário, etc. O nome ganha uma importância invulgar, o leitor apoia-se desesperadamente nele. Em princípio, trata-se de uma ilusão. Um nome próprio é apenas isso, sem mais pistas. O truque, porém, funciona: não há nada mais humano, mais pessoal e íntimo do que um nome. O leitor é forçado a usar a imaginação para construir um contexto para o nome, uma textura, um corpo - pele, veias, músculos, órgãos -, uma memória e as respectivas cicatrizes. O leitor escreve o poema. As palavras são aquelas, as ideias são aquelas. Agora, somos aquele nome e aquele texto. Ac...