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Obrigada, senhor Cohen.

“Bela do Senhor” começa nas últimas páginas do “Trincapregos” aliás, “Trincapregos” já vinha de “Solal” assim como “Bela do Senhor” se prolonga em “Os Valorosos”. É uma tetralogia que partilha sítios, personagens, ideias e frases; ler os quatro de seguida é como apanhar uma grande bebedeira.

A questão principal do livro talvez seja, de facto, a relação amorosa entre Ariane Cassandra Corisande d’ Auble, por casamento Daume, e Solal dos Solal. Mas reduzir “Bela do Senhor” a uma história de paixão é preguiça e muito errado. Trata-se de uma obra compósita, dinâmica e oh, maravilha! extremamente literária onde as palavras galopam e sucumbem (agradecimentos também aos tradutores que aguentam a agitação constante e, de novo, ao editor corajoso).

De forma impressionante, Albert Cohen retrata o crescimento do nazismo numa Europa complacente, ataca a burocracia e as rotinas sem sentido e sem responsabilidade da Sociedade das Nações, critica os homens lambe-botas e ambiciosos como Adrien Daume e os sogros de Ariane representantes de uma burguesia racista e falsamente piedosa, dá voz às empregadas de limpeza que tudo sabem e tudo aguentam em silêncio e sem acção (maravilhosos monólogos de Mariette — como seria bom vê-los no teatro ao lado de Zerlina). A paisagem habitual e eterna da humanidade.

E mesmo em relação à paixão, Albert Cohen transforma-a em coisa absoluta, é verdade, mas não no sentido frequente de requebros lânguidos sem fim. Absoluta pois inclui o avançar implacável do lado sombrio das paixões, os pensamentos que recusamos, porque estão contra todas as convenções interiorizadas que nos tolhem os gestos verdadeiros, porque nos abalam com a força de um terramoto, porque temos medo de quem somos.

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