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Não há riso no Cristianismo. 
Só poderia aderir a uma religião em que o Criador se risse da Criação — um Deus trocista. 
Seria tudo muito mais fácil se aceitássemos um Deus trocista.


Emil Cioran, Cadernos 1957-1972 (junho 1968)

Comentários

Boa noite disse…
Procurava esta entrada, de três anos depois: Ce qui manque à Simone Weil, c'est l'humour. Mais si elle en eût été pourvue, elle n'aurait pas fait de tels progrès dans la vie spirituelle. Car l'humour fait manquer l'expérience de l'absolu. Mystique et humour ne vont pas ensemble.
(ver que logo depois dessa entrada que citaste, ele falava de simone weil... há aí de que fazer um rapport como o de eloge de l'amour, não há?)
c disse…
A primeira referência a Simone Weil nos Cadernos surge em 1964 (se não me enganei a contar, são 21 ao todo). A relação de Cioran com ela é contraditória, ele próprio tem noção disso e chega a escrever

«Leio, entre a admiração e o exaspero, uma biografia de Simone Weil. O seu imenso orgulho impressiona-me ainda mais do que a sua inteligência.»


Logo a seguir a esta entrada sobre o riso, escreveu (tinha acabado de ler o estudo de SW sobre a Ilíada e estava muito chateado):

«Simone Weil é ridícula: encontrar piedade na Ilíada e apenas crueldade no Antigo Testamento!
No que respeita à crueldade, é ela por ela. O Deus dos exércitos não é o mais feroz, longe disso! do que Zeus e a sua quadrilha.»
c disse…
Passado uns anos, faz o raccord, quer dizer, nele é círculos, ele anda aos círculos:

«O que falta a Simone Weil é o humor. Mas se ela fosse dotada de humor não teria feito tantos progressos na vida espiritual. Porque o humor faz perder a experiência do absoluto. Misticismo e humor não vão bem juntos.»

boa noite disse…
Rapport porque assim como um capitalista que ao fim do ano precisa dar conta de suas perdas e de seus ganhos, assim na segunda parte do filme citado nos é mostrada a origem de pensamentos que havíamos visto e ouvido na primeira. E então vemos o que se perdeu e o que se ganhou

Eles não se desenvolveram. Eles se perderam, se esqueceram. Eles se contaminaram

Eu tive a impressão de ver aqui esse mesmo processo, como aliás vemos com frequência nesses diários, cheios de repetições e esboços, de raccords, inclusive de obras publicadas. No fundo de sua memória aquelas duas reflexões se haviam mantido ligadas, trocando matéria, eventualmente reemergindo, após um período de três anos, na forma desse trecho que eu havia citado
c disse…
Pois, não me lembro bem do filme. É sobre aquilo que fracassa (os filmes, os amores) e os restos (os filmes, os amores) o que fica? Mas acho que agora percebi essa ligação que sugeres, sim.

E o filme tem a Simone Weil e o Cioran naquele aforismo do pensamento lembrar o naufrágio de um sorriso.


Mas sim, tens razão, nesta ligação de duas entradas dos Cadernos afastados por 3 (?) anos podemos ver a forma de Godard pensar :)
Anónimo disse…
se o revisses perceberias perfeitamente de que falo, é simples, é realmente simples! É isso que dizes, também, mas podemos abstrair mais: é uma questão de um tema e suas variações

Tenho o filme diante de meus olhos e não me havia dado conta dessa relação: eis outro exemplo... (é ela que se havia dado conta de mim
c disse…
Encontrei o dvd em casa, vou ver no fim-de-semana.

(é ela que se havia dado conta de mim — isso é uma epifania :)
boa noite disse…
:)