Não há riso no Cristianismo.
Só poderia aderir a uma religião em que o Criador se risse da Criação — um Deus trocista.
Seria tudo muito mais fácil se aceitássemos um Deus trocista.
Emil Cioran, Cadernos 1957-1972 (junho 1968)
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
Comentários
(ver que logo depois dessa entrada que citaste, ele falava de simone weil... há aí de que fazer um rapport como o de eloge de l'amour, não há?)
«Leio, entre a admiração e o exaspero, uma biografia de Simone Weil. O seu imenso orgulho impressiona-me ainda mais do que a sua inteligência.»
Logo a seguir a esta entrada sobre o riso, escreveu (tinha acabado de ler o estudo de SW sobre a Ilíada e estava muito chateado):
«Simone Weil é ridícula: encontrar piedade na Ilíada e apenas crueldade no Antigo Testamento!
No que respeita à crueldade, é ela por ela. O Deus dos exércitos não é o mais feroz, longe disso! do que Zeus e a sua quadrilha.»
«O que falta a Simone Weil é o humor. Mas se ela fosse dotada de humor não teria feito tantos progressos na vida espiritual. Porque o humor faz perder a experiência do absoluto. Misticismo e humor não vão bem juntos.»
Eles não se desenvolveram. Eles se perderam, se esqueceram. Eles se contaminaram
Eu tive a impressão de ver aqui esse mesmo processo, como aliás vemos com frequência nesses diários, cheios de repetições e esboços, de raccords, inclusive de obras publicadas. No fundo de sua memória aquelas duas reflexões se haviam mantido ligadas, trocando matéria, eventualmente reemergindo, após um período de três anos, na forma desse trecho que eu havia citado
E o filme tem a Simone Weil e o Cioran naquele aforismo do pensamento lembrar o naufrágio de um sorriso.
Mas sim, tens razão, nesta ligação de duas entradas dos Cadernos afastados por 3 (?) anos podemos ver a forma de Godard pensar :)
Tenho o filme diante de meus olhos e não me havia dado conta dessa relação: eis outro exemplo... (é ela que se havia dado conta de mim
(é ela que se havia dado conta de mim — isso é uma epifania :)