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O Porto já não são tripas

Há uns seis ou sete anos, quando o vendaval do turismo e da gentrificação se abateu definitivamente sobre o Porto, surgiram um pouco por toda a parte, em grafítis e autocolantes, os slogans «O Porto já não são tripas», «Make Porto Podre again» ou «Porto Morto». Lembrei-me disto ontem, ao ver Vanitas, de Paulo Rocha, no Batalha. O filme é de 2004. Poucas vezes alguém mergulhou tão fundo na carne da cidade, na nossa carne, até às tripas. O Porto barroco, da morte e da terra molhada, dos fogos de Junho, do granito que nesse tempo transformava o dia em noite, do rio escuro, meio água meio lama. Esse Porto podre pertence já a outro mundo. Os próprios slogans perderam a força de um manifesto político e soam agora como um lamento, um canto fúnebre. Não apenas pela cidade soterrada sob os plásticos coloridos do turismo, mas por um Porto que já só existe na memória, no pó dos livros ou em certos filmes, como Vanitas.

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