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Stalker

É mais ou menos a meio do filme. O stalker, o professor e o escritor estão no coração da Zona e a poucos metros do edifício em cujo interior se encontra o «quarto», esse local secreto onde os desejos mais íntimos podem milagrosamente realizar-se. O stalker explica que para lá chegarem não podem optar pelo caminho mais curto e seguirem em linha recta até ao edifício. Pelo contrário, têm que escolher o itinerário mais longo, andando às voltas, como num labirinto. O professor, homem da razão, da técnica e da ciência, aceita e respeita o absurdo da regra do stalker. O escritor, homem da ficção e da fantasia, recusa. É uma rasteira simples, mas espantosa de Tarkovsky.

Comentários

atalhos disse…
Baseado em Roadside picnic (um atalho), faz-me lembrar o seguinte: qual é a melhor maneira de lançar uma bomba atómica, sem, de facto, usar uma bomba atómica? Só bombardeando uma central atómica, sem sair da estrada principal.
c disse…
E o labirinto em linha recta?
Pois, nunca li o livro dos irmãos Strugátski. Não sei exactamente as diferenças entre o que escreveram e o guião do "Stalker". Seja como for, gosto muito da ideia de pôr os clichés sobre escritores e cientistas de pernas para o ar. Se a ideia já está no livro dos Strugátski, excelente.

O "labirinto em linha recta" é uma boa definição daquilo que se passa dentro da cabeça do escritor nessa cena.
atalhos disse…
Parece que os pobres irmãos Strugatsky tiveram de rescrever várias vezes o guião, sob a orientação de Tarkovsky. Portanto, deve ter sido mais ou menos assim: Tarkovsky ditava, e eles escreviam. No fim, as semelhanças entre o guião e o livro são muito poucas.
Conseguir subverter papéis ou ideias não é para toda a gente. A sua “suspeita” é bem fundada.
c disse…
O "labirinto em linha recta" é um conceito muito estimulante :)


Pedro Costa [sobre o quarto de Vanda]: Há uma frase linda de Borges: um labirinto pode não ser curvo ou em espiral, o verdadeiro labirinto é em linha recta. O que Vanda e essas pessoas fazem com os dias é um pouco esse caminho num labirinto em linha recta. E o filme tinha que ter esse traço, essa linha recta.


(...) Mas o tempo fora dos gonzos manifesta a inversão da relação movimento-tempo. Agora é o movimento que se subordina ao tempo. Tudo se altera, mesmo no movimento. Muda-se de labirinto. O labirinto deixa de ser um círculo, ou uma espiral que lhe traduz as complicações, e passa a ser um fio, uma linha recta, tanto mais misteriosa quanto ela é simples, inexorável: como diz Borges. «o labirinto que é formado por uma linha recta, indivisível, incessante». (...) Gilles Deleuze, "O mistério de Ariana" (Sobre quatro fórmulas poéticas que poderiam resumir a filosofia kantiana), tradução de Edmundo Cordeiro, colecção Passagens, Vega
Anónimo disse…
não sei onde, mas Borges diz que o maior labirinto é o deserto

rui